segunda-feira, 3 de agosto de 2009

ALQUIMIA E MAGIA : O CAMINHO DO TAROT


A Vida divide-se em três ciclos regidos por Saturno: o da aprendizagem, o da construção e o da realização.

O percurso entre o Plano Denso e o Ponto Sem Retorno pode ser feito por três vias: a da intuição, a da emoção e a da comunicação.

O Caminho das Energias, que após o domínio de Marte sobre Júpiter, nos conduz, pelo casamento alquímico do Enxofre e do Mercúrio filosóficos, unidos pelo Sal, permite-nos a ligação com o Divino.

Todo o equilíbrio deve ser procurado entre os dois Planos, o Macro e o Micro, o exterior e o interior, o verde e o índigo.

Os setenta e dois Anjos conduzem-nos através das Sete Esferas, até Urano nos abrir a Porta e perdermos a individualidade.

O trabalho consiste em transmutar o vermelho de Saturno na Rosa Mística.

Nós somos o Louco que, empurrado por Sírius, inicia a Peregrinação onde só a Morte simbólica nos volta as costas, preparando-nos para sermos recebidos pela Temperança.

Nos primeiros sete degraus aprendemos.

Nos segundos sete degraus agimos.

Nos terceiros sete degraus projectamo-nos, até dominarmos os Quatro Elementos e passarmos a Porta da Vida Eterna.

No Tarot, pelos Arcanos Maiores realizamos o Caminho e pelos Arcanos Menores trabalhamos os Quatro Elementos, que darão consistência à Obra.

As imagens, impessoais, despertam memórias.

As vibrações cromáticas motivam-nos.

Algumas correcções desfazem enganos.

Thot/Hermes deu-nos a Chave. Depende do nosso entendimento conseguir abrir a Porta e entender a Vida.

O que foi dito sobre o Caminho não está completo, mas é suficiente para quem queira iniciar a Peregrinação.

Em Mafra, na primeira hora de Júpiter do dia da Lua, de Santa Inês e de São Frutuoso.

Magia e Alquimia; a consciência do Caminho.

No princípio era o Um, o ponto em que tudo se concentra e que antecede a expansão marcada pelo círculo. Nele, nada existe porque nada foi manifestado, mas tudo existe em embrião. O ponto é a convergência do que já foi e o início da expansão do que falta ser. Desta maneira surge a dualidade como dois pólos do Um, o Ser e o Não Ser.

O Equilíbrio entre os dois dá origem ao Neutro, o "Ponto Sem Acção", onde nada se manifesta mas tudo existe, que não sendo nenhum dos dois os representa na totalidade, pois tem em si o reflexo das duas partes. Assim, "o que está em baixo é igual ao que está em cima e o que está em cima é como o que está em baixo". É o Três, que contém a memória do passado e o potencial do futuro. È a Porta onde os dois sentidos se cruzam, o lugar da escolha onde tudo é possível e impera a vontade. É a Energia Cósmica que tem como função purificar os quatro estados da matéria no nosso Plano Manifestado para a reintegrar na totalidade do Um.

O Caminho tem sempre dois sentidos: a expansão e a concentração. A expansão é o global, o manifestado, o branco que tudo engloba mas nada define. A concentração é o individual, o preto, o denso onde tudo se concentra e se une num todo. Os dois sentidos fazem parte do mesmo princípio; são a separação da Energia Primordial nas suas duas polaridades, a divisão do Um antes da manifestação da Trindade Divina no nosso Plano. São o pulsar do Universo, criando a grande espiral cósmica onde o bem e o mal se confundem, pois são simples causas que têm como única finalidade provocar um efeito.

Nesta Esfera, a existência tem de ser criativa, aproveitando em cada momento todas as possibilidades que o Universo nos faculta, despertando em nós a consciência de que cada ser é o ponto de convergência de todas as forças deste Plano, onde os Quatro Elementos ou estados da matéria perceptíveis aos nossos sentidos se ligam às três Energias. O nosso corpo é o Forno Alquímico onde todas as transmutações são possíveis e onde a matéria se liga ao Espírito, originando a vida.

O percurso é solitário e interior e as condições necessárias para o conseguirmos realizar esperam por nós. A Mãe Terra e o Pai Cósmico põem à nossa disposição todas as suas Energias. Se as soubermos aproveitar nos momentos certos, estaremos aptos a percorrer o Caminho.

Nós somos a matéria-prima que deverá ser trabalhada. Os ensinamentos dos Mestres são as ferramentas que nos ajudarão na Trabalho. A Vontade é a Energia de Transmutação que nos ajudará na realização da Obra.

Segundo a Tradição, todos os mundos, visíveis ou invisíveis, estão ligados entre si por Portas ou pontos de contacto, não sendo mais que múltiplos aspectos ou reflexos de um único Princípio. Esses mundos ou Planos formam uma cadeia; os Rituais e os Trabalhos da Arte têm por função fazer o contacto entre eles, através da "Lei da Simpatia" ou "Lei da Analogia", o princípio da relação universal ensinada por Hermes Trismegisto na Tábua de Esmeralda.

Na Magia Cerimonial, o ritual é o meio de activar ou controlar Energias de modo a conseguir produzir efeitos ou influenciar situações.

Na Alquimia Operativa, a manipulação é o meio de provocar alterações ou transmutações sobre a matéria.

A Magia é a Arte de controlar as Energias, reconduzindo a Vida ao seu projecto original, purificando-a das influências externas que a possam ter alterado ou condicionado.

Tal como a Alquimia, tenta eliminar o supérfluo, isolando e purificando a sua essência.

O seu efeito é exercido principalmente sobre quem a pratica e não sobre o mundo exterior. Caminho solitário porque é interior, tem como finalidade despertar a consciência da existência de um percurso individual e da necessidade que cada um de nós tem de o percorrer para que a vida tenha sentido e se cumpra o seu objectivo.

A força da Magia está na razão e na intenção com que é praticada e não nos objectivos que motivam a sua prática. Ninguém consegue, pelos trabalhos da Arte, atingir o que não lhe esteja anteriormente destinado.

Os efeitos, na Magia, são conseguidos através da manipulação controlada de determinadas forças, objectos, cores, perfumes, sons e gestos que, segundo a "Lei da Analogia", representam no nosso Plano as Energias que queremos controlar. Os objectos rituais, a sua disposição, as palavras e os gestos utilizados num ritual, tal como os produtos utilizados na Obra Alquímica, são as chaves que, quando utilizadas de forma correcta, justa e perfeita, nos permitem abrir as Portas dos planos e fazer o contacto com outras Esferas ou realidades.

A Alquimia é um processo biodinâmico que utiliza a fermentação ou a putrefacção para provocar alterações na matéria, em vez das reacções químicas normais. Segundo Jean Dubuis, "conduz ao conhecimento profundo dos mecanismos fundamentais da Natureza mas, ao contrário das ciências profanas que só pretendem atingir o aspecto material desses mecanismos, a Alquimia tem igualmente em conta o aspecto espiritual geralmente invisível à percepção sensorial do operador. É por esse aspecto dos estudos alquímicos que o operador é conduzido a um progresso espiritual, a uma elevação do seu nível de consciência".

Na realização da Obra, a Tradição indica que é necessário ler e reler os textos antes de iniciar qualquer Trabalho, seguindo o exemplo dado por certas operações químicas, cuja repetição perseverante conduz a um resultado alquímico.

Na prática da Arte, onde o ritual é uma programação ou codificação criada com o objectivo de conduzir algo ou alguém a um objectivo determinado, é pela repetição de sinais, gestos e palavras, com significados precisos, que se percorre o caminho que, por vezes, conduz ao resultado pretendido, mas muitas vezes não conduz a lugar algum. A diferença , como nos trabalhos da Obra, está em nós e na maneira como nos entregamos aos trabalhos da Tradição: a emoção conduz-nos com a confiança necessária, a razão distrai-nos pela análise e necessidade de entendimento.

Os objectos rituais e o local onde se realizam os trabalhos da Arte têm uma função meramente simbólica e a sua importância será inversamente proporcional à nossa capacidade de imaginar e concretizar, no plano mental, as práticas rituais necessárias para conseguirmos o nosso equilíbrio e percorrermos, de forma justa, o nosso Caminho.

Na realização da Obra, a utilização de materiais e utensílios é necessária,

pois são executados no plano manifestado, e devem ser adaptados às condições actuais.

Sobre esta matéria Jean Dubuis diz-nos no seu curso de Espagíria: "alguns pensam que o aquecimento eléctrico é uma heresia em Alquimia ou em Espagíria. Mas, após experiências, o nosso ponto de vista é diferente; pensamos que se trata de uma superstição devida ao desconhecimento do problema alquímico".

Fernando Pessoa, num texto do seu espólio da Biblioteca Nacional de Lisboa (54A-39), escreve: "As experiências alquímicas, como acima se indicou, são feitas com produtos químicos usuais e com aparelhos (hoje também eléctricos) de laboratório normal. A diferença está na espécie de Experiências, na intenção das experiências e no género do resultado".

Para Jean Dubuis, "o avanço espiritual conduz a ter a cabeça no Céu mas, para realizar o seu trabalho de forma perfeita, o Alquimista é obrigado a manter os pés sobre a terra; toma consciência das realidades superiores, registando no espírito as manifestações físicas e a sua importância.

Através dos elementos físicos, o Alquimista ou o Artista hábil, pode e deve conseguir manipular os elementos divinos, espirituais, invisíveis, que são os verdadeiros elementos da vida nas coisas e nos seres".

Para Fernando Pessoa, "Para colaborar na experiência alquímica é preciso, em todos quantos colaboram, o seguinte estado de espírito: a intenção preocupada e quanto possível firme, de que a experiência dê resultado; a colocação do espírito em estado de receptividade abstracta, para que o resultado, a dar-se, não encontre obstáculos para se manifestar no espírito; e a abstenção completa de esperar resultados materiais, sejam lucros directos ou benefícios externos de qualquer espécie, do resultado das experiências.

...tampouco pode esperar que o resultado destas experiências, em vez de o beneficiar em espírito, o beneficie, por exemplo, na sua vida social (como o acto de magia pode fazer)".

Segundo a Tradição, a Coroa manifesta-se ao longo das oito esferas intermediárias até trabalhar sobre a primeira matéria, o Reino, em que tudo tem por base os Quatro Elementos simbólicos: a Terra, a Água, o Fogo e o Ar, sendo as características básicas dos compostos resultantes da percentagem dos Elementos entre si. Este é o ensinamento da Cabala, tradição gnóstica sobre a qual se baseavam as práticas de magia cerimonial de Alexandria, divulgada na Europa por judeus sefarditas, no Secl. XII, num pequeno opúsculo, o "Sepher Yetzirah" ou Livro da Criação, que dará origem a uma vasta obra de comentários, o "Sepher Zohar" ou Livro do Esplendor. Como complementos do Livro da Criação surgem na mesma altura duas outras obras: o "Aesch Mezareph" que é a sua interpretação alquímica e o "Oráculo Caldeu" como sua interpretação mágica. Estes são os dois caminhos que conduzem à Origem através da Criação.

Muitas são as obras que nos indicam o Caminho, mas múltiplos são os caminhos que temos à nossa disposição.

A escolha será sempre nossa, mas a Lei que diz "faz o que queres", deverá ser completada: desde que não interfiras no caminho dos outros e respeites a sua liberdade. O exame, no fim do Caminho, é feito pelos Mestres e nele o coração deve pesar menos que uma pluma.

Pela experiência adquirimos o conhecimento necessário à formação e desenvolvimento dos três corpos básicos, que irão ser o suporte do nosso trabalho, ao longo do percurso: o Corpo Físico, o Corpo Emocional e o Corpo Mental. Pela sua purificação, realizaremos o casamento alquímico do Sal, Enxofre e Mercúrio filosóficos.

No Tarot, pelos Arcanos Maiores realizamos o Caminho e pelos Arcanos Menores trabalhamos os Quatro Elementos, que darão consistência à Obra. Thot/Hermes deu-nos a Chave. Depende do nosso entendimento conseguir abrir a Porta.

Repetindo o trabalho em cada ciclo de Saturno, completaremos a Obra de Purificação dos Quatro Elementos, preparando-nos para a fusão dos três Princípios, o Sal, o Enxofre e o Mercúrio ou a Razão a Expressão e a Emoção, que regem a nossa vida nesta dimensão.

Nesse momento a Obra estará completa e a Porta poderá ser ultrapassada. Conquistaremos o direito de subir mais um degrau na escada que liga os Planos e assumir a identidade do Louco ou Peregrino que, através dos três vezes sete Arcanos Maiores do Tarot, atingirá a grande Porta do Mundo para se libertar da aparente Lei da Morte.

Será esse o segredo da Pedra Filosofal?

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